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Arquitecto
Existe um tipo de música cujos instrumentos não são nem piano, nem violino, nem guitarra, mas uma orquestra composta por edifícios, ruas, praças, fontanários e aves.
É cortar um tijolo uma amputação? Agrafar um vidro, uma intolerável perfuração? Pode considerar-se uma violência obrigar uma estrutura a estar suspensa em consola por toda a sua existência?
Mais parece que o grande anseio da linguagem do nosso tempo é o retorno a uma arquitectura com os requisitos técnico-funcionais de uma anta — essa sim, verdadeiramente minimalista.
Uma construção é apenas um estádio temporal entre matéria-prima mais ou menos processada e o seu estado de ruína, a sua pós-vida.
A casa própria é o maior investimento que um cidadão normal faz na sua vida, metade da qual, provavelmente, é passada dentro dessa casa. Como justificar a pouca atenção dada ao objecto da compra?
Nós, cidadãos, temos direito à rua. A “revolução” passa por transformar a esmagadora maioria das nossas ruas em vias de sentido único.
Somos capazes de sair do nosso conforto para viajar, cruzar continentes inteiros se necessário, e visitar construções atípicas em que quase tudo está fora do sítio onde “supostamente” deveria estar. Depois voltamos ao nosso quotidiano, às nossas casas, e amolecemos.
Uma das melhores janelas que se pode experimentar é a dos eléctricos tradicionais lisboetas. As carroçarias destes eléctricos, de desenho exemplar, incluem um sistema de janelas de guilhotina que permite a sua abertura total, oferecendo-nos uma experiência de mobilidade mais rica.
A obra é agora ruína, libertada da sua condição funcional e servente, livre para simplesmente existir no mundo, num progressivo retorno à natureza, voltando a serem novamente um só. Será um edifício uma metáfora da condição humana?
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