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Cronista e escritora
Será que as nossas mãos vão aprender a desenhar mapas na pele do outro?
Ele estivera lá, nos melhores e nos piores momentos da literatura, da história, e sempre soubera que, mesmo que ninguém o quisesse, era ele quem garantia que o passado continuava a ter sentido.
O intervalo estava associado directamente a um espaço: o recreio. Não havia distinção entre intervalo e recreio. Além disso, a vida verdadeira era o intervalo.
Os cafés já estão cheios de gente à procura de bebidas quentes. Mas as praças ainda têm pessoas que se sentam ao sol. As crianças já estão na escola. Mas ainda há areia das férias no carro.
Crescer é um conceito abstrato. Amigos dos nossos pais dizem-nos o quão depressa crescemos e nós desconfiamos, ou achamos aborrecida a conversa.
Sinto necessidade de ser guiada pelo cientista para fora das minhas dúvidas. Preciso que alguém me aponte a alegria como um pai aponta os ninhos das cegonhas nos postes de electricidade.
Fui pegada ao colo e embalada dentro de água. Tão simples, tão forte. Como se já tivesse estado ali. Senti que estava a nascer, senti que estava a morrer.
Podia acabar com a minha saúde, mas jamais com a ordem natural do mundo. Mexer com conceitos que se têm arrumados é o que mais inquieta o ser humano. Tratava-se da batalha do absurdo contra a lógica.
Não me agrada a ideia de crescer e deixar de fazer amigos. Acho triste. E claro que a finitude da vida pode tornar complicada a matemática das amizades, mas deveríamos batalhar sempre pelo seu lugar.
Para ver pombos e comer cornettos de morango poderíamos ter ido até ao Rossio, e eu escusava de sentir tanta pena dos bichos.
Começa-se a envelhecer quando se começa a dar conta. É o princípio. A gordura torna-se mais teimosa, junto às ancas. Repara-se no que antes não se reparava.
Qual é o limite da intimidade que se pode ter com alguém? Sim, as perguntas são as novas discotecas. Procuro-as em êxtase e é graças a elas que não durmo.
Nos últimos dias não consigo escrever sobre quase nada. A minha vontade é apenas repetir, vezes sem conta, que a buganvília caiu.
Vou recebendo pequenos reforços e lembretes divinos que me obrigam a parar para reflectir na vida. A constante exigência: “Prove que não é um robô” traz-me inquietude.
Se saía de vestido floral e de chapéu para um passeio, as carícias das folhagens, os ramos que lhe roçavam nas costas, ou as árvores que ofereciam as suas frutas, impregnavam-na de um torpor lúbrico.
Um dueto afinado no Singstar. “Mãe, a lua também veio connosco de férias.” O início do Up. A ventosa de uma flecha presa na parede. O fim do Dias Perfeitos. Colar os cromos nas cadernetas.
Não é com orgulho que admito que, se um homem com mais de 30 anos me diz que o seu livro preferido é O Principezinho, eu quero fugir.
É preciso mexer o corpo, é preciso ficar em forma, ou em fôrma, uma fôrma que caiba dentro das calças de ganga. E cada um a esforçar-se, como se alguém nos obrigasse.
Andava a repetir que caminhar ao pé do mar é a minha terapia, que ginásio é a minha terapia, que ler é a minha terapia, que dançar é a minha terapia, que ir ao cinema é a minha terapia.
Os meus amigos próximos não são cool. (Desculpem, amigos.) Não sei se não são cool e por isso é que são meus amigos, ou se, por serem meus amigos, eu sei que eles não são cool.
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