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Cronista e escritora
O homem que se levanta toca em algo divino. O gesto de levantar, no sentido puro do termo, é uma infração. É dizer: não sou apenas barro. Sou desejo. Sou força. Sou também resistência.
Precisamos de descanso. O descanso é político: sem ele não há pensamento, sem pensamento não há dissidência. Uma sociedade esgotada aceita qualquer chefe.
Depois de impor ordem no trânsito descontrolado de burqas, é reconfortante ver os dirigentes concentrados naquilo que tira o sono às famílias: a falta de inteligência artificial nas salas de aula.
“Fala de temas menos femininos.” Então aqui estou, com o meu charuto, a reflectir sobre o Mal na humanidade, enquanto alguém toma conta dos meus filhos.
Muitos dos lapsos são hoje, aliás, patrocinados pelo corrector automático, esse vigilante benevolente com vocação satírica. É o nosso superego tecnológico.
São animais estáticos, mas de uma vaidade feroz. Compõem verdadeiras colónias, disputando território. Não caçam, não constroem, não produzem. Apenas exibem plumagem e esperam ser escolhidos.
Ultimamente, vejo que a expressão “Ao final do dia” se pegou como resina de pinheiro no vernáculo do país.
Bastou um vislumbre de Julieta e activou-se o love bombing. Chamou-lhe luz, anjo, constelação emocional. Fez mirroring verbal, affirmations non-stop, jurou amor eterno.
É isto que o Governo escolhe: substituir a linguagem pela imagem, a conversa pela simulação, a construção lenta pela violência fácil. Prefere que aprendam por tentativa, por erro, por trauma.
Envolva tudo numa cobertura espessa de negação colectiva. Se notar cheiro a hipocrisia, disfarce com canela e um painel sobre Empreendedorismo.
A cidade não foi feita para isto. Mas também nunca foi feita para nós. Nem para o cansaço. Há frases que só aparecem depois da curva. Ideias que só se entendem em movimento.
As frases nas redes sociais andam a correr por aí como um cavalo desgovernado com um nome cravado no flanco. E podem ficar agarradas como alcunha no recreio.
Há podcasts sobre crimes, livros, crimes sobre livros, livros sobre crimes, gente que lê livros sobre crimes e comenta os crimes que os outros cometem enquanto lêem livros.
Passei por uma estante em que só se viam as páginas dos livros, a lombada ficava para a parede. A ideia era ser uma estante esteticamente mais bonita, em tons de branco. Achei feio e estúpido.
Já não basta comunicar. Agora, cada frase dita está sujeita a um tribunal imaginário que a julga, desconstrói e analisa até se transformar em algo completamente diferente.
Dizer “não” nunca foi uma escolha fácil. É contrariar alguém que gostaríamos de agradar. É perder algo para ganhar outra coisa — e, muitas vezes, sem saber se a troca valeu a pena.
A propósito de uma notícia sobre como a Europa responsabiliza empresas pelo acesso indevido de crianças a conteúdos digitais, a escritora Madalena Sá Fernandes escreveu um poema.
O nerd não quer apenas absorver conhecimento — ele quer debatê-lo, confrontá-lo. Os nerds são uma espécie de magos, os que decifram linguagens tão estranhas quanto Elvish: Python, C++ ou Klingon.
Pelo espelho, vejo-o estacionar com uma facilidade humilhante, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Acelero como quem foge de uma cena de crime.
Tentar fixar quem é o chato é uma tarefa ingrata. Ele assume todas as formas. É o entediante e o exagerado, o vulgar e o espalhafatoso, o que não se nota e o que se nota de mais.
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