Os leitores são a força e a vida dos jornais. Contamos com o seu apoio, assine.
Os leitores são a força e a vida do PÚBLICO. Obrigado pelo seu apoio.
Rachei a cabeça de um colega com uma pedra atirada com a força da justiça, a mãe zangou-se comigo, não se bate numa pessoa por causa de um cão, mas eu gostava mais do Zé do que de toda a família.
Que pássaro é esse, meu amor?, desde quando é que dormes com aves debaixo da almofada?
Dá vontade de rir quando vemos as mulheres de agora a querer ensinar as de antigamente.
Tinha sete anos quando o meu irmão, cinco anos mais velho, me ensinou as artes de fazer uma armadilha na praia. Era preciso cavar bem fundo, um buraco do tamanho da perna de um adulto alto.
Continuo a sentir ciúmes de tudo o que viveu com a minha mãe. Não posso dizer que lhe tenho amor. Não sinto amor pelo meu pai. Sei que é triste.
Vem-me à memória uma frase de Brecht: Do rio que tudo arrasta se diz que é violento / Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
A verdade é que o meu radar nunca me deixou apeado, sei bem reconhecer um dos meus, até no escuro, tenho este dom, como um enólogo de pessoas, topo-lhes a orientação sexual só pelo cheiro.
A minha mulher, a minha propriedade. Só a morte ma pode roubar. Jurámos no dia do casamento que a nossa união seria até à morte, eu penso cumprir a promessa.
Percebi que o meu desejo, para ser cumprido, teria de ter um cúmplice — a força.
Disseram-lhe que podia ir para a tropa quando tivesse barba e usasse cintos com fivela, que a tropa faz dos homens homens, mesmo aqueles que não o são.
Eu sabia que não podia substituir o meu pai nas suas funções de cônjuge e amante, era apenas um miúdo preocupado e incomodado com a inaptidão da minha mãe.
Não ladrámos para não equivocar os artistas com a máxima “cão que ladra não morde”, é que nós mordemos, mas preferimos rosnar a latir. Aquilo de que mais gostamos — vê-los ganir.
O que é isto de escrever um livro? Para que serve um livro? Parece perguntar o Ministério da Cultura, que se juntou ao da Juventude e do Desporto.
Foi assim que conheci Herman, Alfredo e Guilherme. Foram eles que me apresentaram outros rapazes que se encontravam por todo o mundo. A minha vida mudou. Finalmente tinha uma causa.
Quando saí do metro deparei-me com o cartaz de propaganda política com o rosto do único homem que pode salvar o país desta gente. Um rosto de bem e sorridente.
Sou um saguim pela trela em frente ao televisor, a comer amendoins e a comover-me com os reality shows ininterruptos e previsíveis como as estações do ano.
Quando o Fifas me pediu em namoro, eu já usava soutien, mas era apenas decorativo de uma tábua rasa. “Aceito”, respondi-lhe, sem saber bem o que era suposto fazer-se no namoro com aquela idade.
Cada um fazia o seu pedido. Brindavam e encontravam os olhos cúmplices e tristes. Brindaram e beberam ao balcão até perderem ambos os sentimentos.
As pessoas foram saindo com a calma possível que o álcool permite em situações de evacuação de massas. A mulher, que enchia e esvaziava a caixa torácica num ritmo acelerado, chiava a cada expiração.
Fêmea e macho abafaram memórias boas no mais fundo da algibeira e seguiram caminhos distintos. Trocaram a frustração sabida pela desilusão futura.
Ocorreu um erro aqui, ui ui