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Filósofo, professor da Universidade da Beira Interior
Que imaginação de bem comum se pode esperar de tanta fragmentação, das vidas e dos convívios, dos lugares, até do tempo de que precisamos para os habitar?
O que se toma por tempo morto é, verdadeiramente, tempo vivo, que nos preenche. Como um tempo que faz raízes.
Não precisamos que as ervas daninhas deixem de se chamar assim, pelo contrário, precisamos é de chamá-las assim, para que vejamos como sublevam qualquer ordem. São daninhas porque têm essa potência.
Conhecemos e existimos pelos caminhos que percorremos como fios, cada lugar um enredo singular e o mundo uma colecção dessas singularizações que se vão fazendo.
Nas ciências, o caminho vai sendo o da citação industrial, produção sempre a somar.
No fluxo das consciências, as experiências vividas caem da presença como uma chuva oblíqua. Percepções, recordações, afectos aterram num chão interior.
Dos SUV aos corpos masculinos, a condição maciça é uma solidão impositiva. Uma maneira de ser que não se permite nenhum estar além dos seus limites. O estar engolido pelo ser.
A mentira banalizou-se ao ponto de ser moralmente indiferente. O político populista pode mentir e fica a rir.
Há abraços amorosos, de pai e mãe, de companheiros, solidários, terapêuticos, em volta de árvores, até cósmicos. E há abraços que têm tudo isto ao mesmo tempo.
O que construímos na Terra pesa hoje mais do que todas as florestas juntas. Enquanto isso, a biomassa global declina, como uma lenta desaparição da vida.
John Newlands imaginou que os elementos químicos dispostos segundo a massa atómica repetiam periodicamente as mesmas propriedades como uma escala musical. Tudo ressoa em tudo.
Não devíamos imaginar-nos vontades em luta contra o mundo. Devíamos sim pôr as nossas vontades mais de acordo com as do mundo, a quererem da mesma maneira.
Há que resgatar o grito. Não o do populista, disfórico, mas esta energia da voz.
Escutar é uma atitude que se escolhe. Podemos escutar com os ouvidos, os olhos, os dedos, com tudo o que temos para dar. E podemos nada escutar, mesmo com os ouvidos.
Mobilizar a etimologia para invalidar usos de palavras não é caminho.
As máquinas podem matar por nós, mas não podem morrer por nós.
Somos massa em permanente reacção ao passado que persiste presente, na forma de dívidas e espectros. E os meios digitais têm sido esplêndidos agregadores dessa massa subjetiva.
Se o pronome masculino fosse realmente neutro, também deveria poder dizer-se “as senhoras” ou “as colegas” no caso de estar presente uma mulher, mesmo que a única, numa sala repleta de homens.
Toda esta aversão à matéria, este equívoco que nos desliga da materialidade do mundo, é parte do mal-estar ecológico que vivemos.
As crianças conhecem bem a intemporalidade destes entrelugares. Correm com canas ao longo do areal como se tivessem regressado ao Paleolítico e sentem-se plenas quando adentram as dunas.
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