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Filósofo, professor da Universidade da Beira Interior
Mobilizar a etimologia para invalidar usos de palavras não é caminho.
As máquinas podem matar por nós, mas não podem morrer por nós.
Somos massa em permanente reacção ao passado que persiste presente, na forma de dívidas e espectros. E os meios digitais têm sido esplêndidos agregadores dessa massa subjetiva.
Se o pronome masculino fosse realmente neutro, também deveria poder dizer-se “as senhoras” ou “as colegas” no caso de estar presente uma mulher, mesmo que a única, numa sala repleta de homens.
Toda esta aversão à matéria, este equívoco que nos desliga da materialidade do mundo, é parte do mal-estar ecológico que vivemos.
As crianças conhecem bem a intemporalidade destes entrelugares. Correm com canas ao longo do areal como se tivessem regressado ao Paleolítico e sentem-se plenas quando adentram as dunas.
De passagem pelo mundo, com os olhos postos num reino de deus, num novo mundo ou num multiverso, não estamos inteiramente com as coisas, a vida e as pessoas, aqui e agora.
Devíamos envolver-nos com o que está em volta, o mundo em véu em vez de um céu a abater-se. Menos apocalipse, mais Calipso.
Chamamos-lhe liberdade de escolha, mas é apenas liberdade descarnada de destino.
E se aprendêssemos a caminhar cada vez mais devagar?
O mal do tempo por um dos filósofos mais influentes da nossa época.
Talvez a boa alternativa não seja insistir na estreiteza de uma esfera pública de elites do discurso, mas cultivar a participação cívica dos gestos.
Da ética espera-se que tire a venda dos olhos para suportar o olhar do outro com quem se partilha o mundo.
A pior memória, a que não esquece, e o pior esquecimento, o que invisibiliza e abandona, são o mesmo.
Caminhemos como quem respira pensamento e a cada passo oferece ao mundo um corpo para respirar.
90% das línguas podem desaparecer ao longo deste século. É uma extinção em massa da própria massa que faz a humanidade.
É um ar do tempo, que quer tudo às escâncaras para verificação e julgamento público. Se um texto peca em falta de literalidade, é-lhe exigido logo o contexto.
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